A digitização dos serviços bancários, tão alardeada pela diretoria do Banco do Brasil na justificativa das ações que baseiam a nova reestruturação do BB, está longe de ser a principal motivação do governo federal na edição desse pacote que fragiliza a instituição, aterroriza os funcionários e ataca o desenvolvimento desde as áreas metropolitanas às pequenas e médias cidades do interior do Nordeste. De maneira inédita, têm-se uma administração central no País que opera o aprofundamento dos abismos que separam as regiões brasileiras.

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Os dados preliminares apontam que a movimentação de funcionários e alteração da funcionalidade dos postos de atendimento resultante da ação vai mudar significativamente a face de cidades cuja presença do Banco e, especialmente, do poder de decisão de um administrador da empresa influenciam na atuação da instituição como mecanismo indutor do desenvolvimento regional sustentável.

E, neste sentido, é válido o resgate do papel do Banco do Brasil como um dos responsáveis pela difusão dos serviços bancários e da modernização do território nordestino. As atividades econômicas dos ciclos econômicos do algodão na Paraíba, do cacau na Bahia, da cana-de-açúcar em Pernambuco e Alagoas e do avanço na fronteira agrícola no meio-norte e no cerrado baiano, da fruticultura irrigada em Pernambuco e no Rio Grande do Norte e ainda, mais recentemente, nos investimentos em construção civil e no financiamento de empresas do setor varejista e de serviços em toda a região, reforçam essa relação do BB com o Nordeste.

Nas pequenas e médias cidades, alvo principal do desmonte, o impacto dessas ações agravará o estado de calamidade social e econômica causado pela pandemia do novo coronavírus. A ausência de instituições públicas que tenham a capacidade de orientar o crédito à produção e possibilitar o fomento das atividades econômicas, fortalecendo a produção local, aprofundará o estado de desalento nessas populações, com impacto em atividades importantes como a agricultura familiar, majoritariamente responsável pela alimentação da população brasileira.

Já nas regiões metropolitanas, a escalada de empobrecimento avançará com a perda da potência das ações de um banco público como o BB. É iminente o retrocesso das políticas de difusão do crédito, bem como da capacidade de financiamento das médias e pequenas empresas, geradoras do maior percentual de emprego formal no Brasil nas últimas décadas, completando no meio urbano a tragédia econômica que se forma no meio rural.

Para ilustrar essas considerações, tomemos Pernambuco como exemplo. 16 dependências perderão o status de agência para se transformarem em PAA (Postos de Atendimento Avançado), com ajustes significativos em suas dotações e afetando sobremaneira a relação da empresa com as comunidades em que esses pontos haviam sido instalados; acrescenta-se a isso o fato de que 8 postos de atendimento, incluindo 2 agências, deixarão de existir, extinguindo a presença do BB nessas localidades.

Já em Alagoas, a situação segue bastante preocupante, 8 postos deixam de existir e outras 6 localidades verão suas agências serem transformadas em PAA. Nos demais estados nordestinos essa lógica segue o mesmo curso, fazendo coro a sem número de ações que empurram a região para indicadores em relação aos quais se comemorava a superação num passado recente.

O impacto no atendimento dessas localidades já será percebido no início do próximo mês com a nova configuração das unidades, eliminado os guichês de caixa, por exemplo, e do resultado dos planos de desligamento iniciados nesta semana que preveem o corte de cerca de 5 mil postos de trabalho em todo Brasil.

O desafio nesta quadra passa a ser o de defender o Banco como não somente agente financeiro capaz de fomentar o desenvolvimento da região, mas como patrimônio de toda a sociedade brasileira, artífice de transformações cruciais da história brasileira e protagonista de eventos inovadores que poderão garantir seja aos trabalhadores e trabalhadoras do Banco, seja ao setor produtivo e empresarial o seu lugar na construção de retomada econômica que equalize a geração de valor com o desenvolvimento social e econômico do Nordeste e do Brasil. (Com Vamosemfrente)

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