Planalto quer Omar Aziz na relatoria da CPI; “oposição pintou-se para a guerra”
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Não falta nada para instalar a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19 no Senado. O colegiado está constituído. Já é possível traçar o perfil da comissão, que é majoritariamente oposicionista. São 7 senadores de oposição e 4 governistas. O imbróglio inicial para o Planalto é a escolha do relator dos trabalhos.
Senador Omar Aziz (PSD-AM). Governo quer emplacá-lo na relatoria da investigação. Chances são remotíssimas
Com amplíssima maioria da oposição, a tendência (quase óbvia), é a relatoria cair nas mãos de um oposicionista. Esse nome, tudo indica, deve ser o senador Renan Calheiros (MDB-AL), desafeto do governo. Basta lembrar o que o Planalto fez com Renan no início da Legislatura (2019) quando tirou da “manga do colete” o obscuro Davi Alcolumbre (DEM-AP), que acabou guindado à presidência do Senado, no vácuo de poder da chamada “velha política” e na onda da falaciosa “nova política”.
O governo quer emplacar na relatoria da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM), considerado mais “neutro” ou “independente”, comentou o analista político da consultoria política Arko Advice, Marcos Queiroz. Mas Queiroz antecipa que essa intenção é muito pouco plausível, pois o governo não tem número para vencer no voto a escolha do relator e muito menos do presidente do colegiado. Favas contadas.
Uma CPI para investigar os desmandos e omissões do governo na pior crise sanitária do Brasil-República ser instalada para entregar seu posto-chave, a relatoria, ao principal implicado e responsável por essa crise — o governo. Não faria sentido isso.
Quanto mais tempo demorar para instalar os trabalhos, pior para o governo, pois, é como reflete Renan Calheiros: “fica mais próximo das eleições”.
O que está pegando
Até o momento, o único problema que “está pegando” são algumas questões procedimentais, como informa Queiroz. O colegiado precisa definir, por exemplo, se as reuniões serão virtuais ou presenciais. Sobre isso o presidente Rodrigo Pacheco (DEM-MG) definiu que a reunião de instalação vai ser presencial, as demais, virtuais.
Mas, ainda sobre isso, não há definição sobre as oitivas que serão realizadas. E serão muitas. Em princípio, a CPI terá prazo de funcionamento de 90 dias. Diante do caos sanitário e dos esperneios de Bolsonaro, o Senado ficará voltado para essa comissão. E a mídia também. Alguém tem alguma dúvida sobre isso?
O prenuncio da crise
O Brasil já está há muito sob crise, a pandemia apenas agravou sobremodo as crises e acrescentou o gravíssimo problema sanitário. Essa CPI tende a jogar mais “gasolina nessa fogueira”, que pode queimar mais ainda o governo, sobretudo o seu chefe, como analisa o jornalista Josias de Souza em sua coluna no portal UOL, desta quinta-feira.
O governo avaliou que Pacheco poderia segurar a criação da CPI ad eternum. Da aprovação do mandado de segurança impetrado pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Jorge Kajuru (Cidadania-GO) e deferido liminarmente pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, que permitiu a leitura do requerimento, na última terça-feira (13), ratificado pelo plenário do STF, quarta-feira (14), houve uma sucessão de reveses contra Bolsonaro.
Daí em diante despencaram as “muralhas” erguidas pelo Planalto para proteger os principais atores do governo responsáveis pela profunda crise sanitária que consome o País, dia após dia.
Publicamente, o governo está no “modo negação”. O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Onyx Lorenzoni criticou, nesta quinta-feira (15), a instalação da CPI. Onyx defendeu que o governo “não tem nenhum temor” pelo trabalho que será feito pelos senadores sobre a condução da pandemia do novo coronavírus no País.
“Quem idealizou a CPI achava (que o governo iria temê-la), porque não tem informações de que o governo teria algum problema, alguma coisa, para esconder. Não temos absolutamente nenhum temor. O governo sabe o que fez”, disse o ministro, em entrevista à CNN.
O governo na “alça de mira”
“Dos 11 senadores que compõem a bancada da CPI como titulares, apenas quatro têm viés governista”, analisa Josias de Souza. “Os demais tramam a constituição de um G7 cujo principal propósito será servir a Bolsonaro o pão que o coronavírus amassou”, emenda.
“Estreitam inimizades e aproximam diferenças em nome do objetivo comum de infernizar Bolsonaro: Renan Calheiros (MDB-AL), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Eduardo Braga (MDB-AM), Omar Aziz (PSD-AM), Otto Alencar (PSD-BA), Humberto Costa (PT-PE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP)”, enumera.
“Na definição do tucano Tasso Jereissati, a CPI sobre a pandemia é ‘a mais importante da história’. O Planalto providencia dossiês com os ‘podres’ dos seus rivais. Considerando-se que o principal soldado do Planalto na CPI é Ciro Nogueira (PP-PI), expoente do Centrão, o governo se arrisca a bater bumbo sob um imenso telhado de vidro”, segue a análise.
“Numa conversa telefônica com um membro do G7, um dos generais de pijama que comandam escrivaninhas no Planalto perguntou na noite de quarta-feira: ‘Acha que o presidente Bolsonaro precisa mesmo se preocupar com essa CPI?’ E o senador, caprichando na ironia: ‘Acho que não, a menos que Bolsonaro tenha cometido algum erro na condução da pandemia”, fechou o analista.