Diálogos DIAP: Ex-presidente da Caixa defende estatais e alerta: “Se é público, é para todos”
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A ex-presidente da Caixa Econômica Federal e consultora técnica do DIAP, Rita Serrano, defendeu a manutenção das estatais brasileiras durante a participação dela no evento Diálogos DIAP. Em palestra, na última terça-feira (25), sobre “O Estado, as Estatais e os Servidores Públicos”, ela destacou que as empresas públicas geraram, em 2024, quase R$ 200 bilhões em riquezas para o País, entre investimentos (R$ 96 bi) e repasses ao Tesouro (R$ 91 bi).
A ex-presidente da Caixa foi incisiva ao analisar o cerco midiático e cultural contra as empresas públicas e citou a campanha “Se é público, é para todos”, lançada em 2016, como estratégia para combater esses estereótipos | Foto: Daiana Lima / DIAP
“As estatais representam 6% do PIB em investimentos. Só o Minha Casa Minha Vida, gerido pela Caixa, criou 5 milhões de empregos em 16 anos. Isto porque ficou, praticamente, paralisado nos governos Temer e Bolsonaro. Sem as estatais, o custo para o governo administrar um programa desse tamanho seria altíssimo e, talvez, comprometeria o programa”, afirmou Serrano.
A consultora também destacou que os bancos públicos respondem por 65% do crédito rural, com destaque para o Banco do Brasil, e 82% do financiamento em infraestrutura, especialmente o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social): “O crédito de médio e longo prazos quem faz é banco público. Banco privado não se interessa por créditos de operações longas como essas. Então, se não fossem os bancos públicos, teríamos um problema seríssimo nos investimentos em infraestrutura do País”.
Batalha contra o PLS 555
A gestora aposentada aproveitou a ocasião para relembrar a batalha contra o PLS 555/15, que previa a abertura de capital obrigatória para estatais: “Eram cláusulas extremamente privatistas, claramente para facilitar o processo de privatização. Atuamos junto ao DIAP, assessoria parlamentar e entidades que representavam os trabalhadores, até conseguirmos retirá-las do texto”.
Porém, ela criticou decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que permitiu a venda de subsidiárias sem aprovação do Congresso Nacional: “O que é que as empresas fizeram? Abriram várias subsidiárias para facilitar o processo de privatizações, como a da Eletrobras”.
Servidores: “coluna vertebral” do Estado
Serrano destacou ainda que o quadro de empregados em estatais no Brasil encolheu 100 mil desde 2016 — de 530 mil para 436 mil —, e defendeu a valorização desses trabalhadores:
“Os empregados de estatais, como servidores públicos, são a parte mais estável do Estado. São eles que mantêm o Estado funcionando, independentemente de trocas de governo. E, por isso, precisam ser valorizados.
“Se é público, é para todos”: um chamado à sociedade
A ex-presidente da Caixa foi incisiva ao analisar o cerco midiático e cultural contra as empresas públicas e citou a campanha “Se é público, é para todos”, lançada em 2016, como estratégia para combater esses estereótipos.
“Criou-se um preconceito de que tudo que é público é ruim. Educação pública é ruim, saúde pública é ruim, se é estatal é ruim, o atendimento é ruim, tem corrupção no setor público. Quer dizer, tem uma série de estereótipos que rondam o setor público.”
E acrescenta: “Como se não houvesse corrupção no setor privado, como se não fosse o setor privado que corrompe o setor público. Esse ‘senso comum’ e esse ‘estereótipo’ geram um desgaste na sociedade e a sociedade não consegue valorizar, de fato, o esforço público”.
Serrano fez apelo para que a população e os movimentos sociais se engajassem na defesa do patrimônio público: “As centrais sindicais precisam retomar esse debate com a sociedade. Nós precisamos discutir a importância daquilo que é público, porque se é público é para todos, se é privado é para poucos”, disse, e acrescentou que o atual governo é “comprometido com as estatais, mas a maioria do Congresso não. Se a sociedade não se mobilizar, vão vender a Casa da Moeda, os Correios, a Caixa... Não podemos deixar”.
O painel foi mediado pelo diretor do Conselho Fiscal do DIAP, Roni Oliveira. A palestra completa está disponível na TV DIAP, no Youtube.