Clima da eleição presidencial de 2026
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- Categoria: Agência DIAP

Neuriberg Dias*
As eleições presidenciais no Brasil desde 2014 foram marcadas por um ciclo de polarização política, instabilidade institucional e tensões que colocaram em risco a democracia do país. Em contraste, as expectativas para o pleito de 2026 indicam um ambiente mais previsível, com maior estabilidade institucional, mas que ainda exigirá a consolidação de uma aliança em bases programáticas para a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Uma análise comparativa entre os dois momentos, a partir de cinco eixos centrais — ambiente eleitoral, clima institucional, estratégia política, dinâmica estrutural e relações internacionais — permite compreender com mais profundidade esse novo horizonte e seus desafios para a eleição presidencial.
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Clima da eleição presidencial de 2026 |
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Eixo |
2022 |
2026 (Horizonte) |
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Ambiente eleitoral |
Renovação |
Reeleição |
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Clima institucional |
Instabilidade |
Estabilidade |
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Estratégia política |
Pragmática |
Programática |
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Dinâmica estrutural |
Ruptura |
Normalidade |
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Relação internacional |
Isolamento |
Reintegração |
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Fonte: DIAP. |
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Em 2022, o ambiente eleitoral foi caracterizado por um sentimento de renovação. Embora o então presidente Jair Bolsonaro buscasse a reeleição, a disputa se configurou entre dois polos antagônicos, em que o ex-presidente Lula simbolizava a promessa de mudança de rumo. Para 2026, a perspectiva é de um cenário mais voltado à reeleição, com a possibilidade de manutenção da atual gestão. Isso indica uma disputa possivelmente mais centrada na avaliação do desempenho governamental e de suas entregas à sociedade.
O clima institucional em 2022 esteve tensionado. Houve embates recorrentes entre os Poderes, ameaças às instituições democráticas e frequentes tentativas de deslegitimar o processo eleitoral, culminando no julgamento e condenação do ex-presidente da República. Já 2026 tende a ocorrer sob um ambiente de maior estabilidade institucional. O diálogo entre os Poderes e o fortalecimento das instituições sugerem uma eleição mais tranquila sob esse ponto de vista.
No campo da estratégia política, o pleito de 2022 foi essencialmente pragmático. As alianças eleitorais se pautaram principalmente pela viabilidade eleitoral, e não necessariamente por afinidades programáticas ou ideológicas. Isso resultou em campanhas centradas em personalidades e ataques mútuos, com menor foco em propostas consistentes de governo — ainda que tenha havido forte comparação de legados, especialmente dos mandatos do presidente Lula. Para 2026, será necessário que os candidatos adotem uma abordagem mais programática, apresentando projetos estruturados e coerentes com suas visões de país e as necessidades da população.
A dinâmica estrutural das eleições de 2022 foi marcada pela ruptura, quando o candidato derrotado não reconheceu a vitória do adversário. Houve não apenas questionamentos às regras do jogo democrático, mas também uma tentativa de golpe de Estado. Esse episódio representou uma crise institucional sem precedentes desde a redemocratização. A expectativa para 2026, no entanto, é de retorno à normalidade: confiança no sistema eleitoral, respeito aos resultados e reconhecimento das instituições como árbitros legítimos do processo democrático devem marcar uma nova fase de maturidade institucional.
Por fim, no eixo das relações internacionais, o Brasil atravessou, até 2022, um período de relativo isolamento, em um contexto de mudanças nas concepções do cenário global. A política externa do governo anterior afastou o país de agendas multilaterais, especialmente em temas sensíveis como meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Desde então, observa-se um esforço de reintegração internacional, com a retomada de laços diplomáticos e a participação ativa em fóruns globais. A eleição de 2026 tende a ocorrer em um contexto de maior inserção do Brasil no cenário internacional, com uma política externa voltada à cooperação, à diplomacia e ao protagonismo na condução de acordos comerciais.
A comparação entre o clima das eleições de 2022 e as expectativas para 2026 revela uma possível transição de um período de instabilidade e polarização para outro de maior normalidade democrática — especialmente após a punição de autoridades envolvidas na tentativa de golpe de Estado e a consequente reafirmação da legitimidade das instituições. Embora o futuro político do país permaneça sujeito a mudanças e surpresas, os sinais apontam para um ambiente eleitoral mais estável, institucionalizado e propositivo, condizente com uma disputa saudável de ideias e visões políticas.
Diante desse cenário, é fundamental que partidos e candidatos compreendam esse novo horizonte e adotem estratégias compatíveis com ele. O eleitor brasileiro demonstra cansaço com conflitos e discursos extremados, que têm criado barreiras ao avanço de agendas positivas para a sociedade. O caminho mais promissor para 2026 será apostar em uma campanha programática, baseada em propostas claras e consistentes — condição indispensável para quem deseja vencer as eleições presidenciais.
*Jornalista, Analista Político, Diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) e Sócio-Diretor da Contatos Assessoria Política.
