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Em solenidade marcada por emoção e simbolismo, o jurista Ulisses Riedel, 92 anos, um dos fundadores do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), conduziu a abertura da posse da nova diretoria da entidade, reafirmando com vigor o propósito histórico do organismo que ajudou a criar. Em discurso articulado, que conectou o legado da instituição aos desafios atuais, Readel defendeu que a missão primordial do DIAP continua sendo a de "iluminar o palco político para que a sociedade conheça o voto de cada parlamentar".

Conscientização como núcleo
Readel afirmou que o cerne do trabalho do DIAP é a conscientização política. "Nós precisamos, sobretudo, iluminar o palco, e é isso que o DIAP está fazendo e vai fazer", declarou. Para ele, é fundamental que a informação sobre como cada parlamentar vota "chegue lá da ponta", especialmente em questões centrais para os interesses da nação.

O poder das notas históricas
Para ilustrar o impacto da entidade, o fundador relembrou as publicações de avaliação parlamentar, como o célebre "Quem foi Quem" na Constituinte de 1988. Ele citou casos emblemáticos: o então constituinte Afif Domingos, que era forte candidato ao governo de São Paulo, caiu para a oitava colocação após receber nota zero do DIAP. Na direção oposta, atribuiu a escolha de Itamar Franco como vice na chapa de Fernando Collor, em 1989, à nota 9 que o parlamentar obteve.

Um "aprendizado" com um derrotado
Readel também narrou um episódio que classificou como educativo. Contou que o ex-deputado José Lourenço (BA), que recebeu nota zero, reclamou após se reeleger: "Sua nota zero não valeu nada". A resposta do jurista foi direta: "Nós não lhe demos nota. Você tirou essa nota. Mas, na verdade, nós sabemos que você teve que gastar muito mais para que pudesse se eleger". E completou: "A maior parte dos seus eleitores não lhe conhece, não sabe que você votou contra as 40 horas, não sabe que votou contra as férias".

Foco nos partidos e um projeto para o futuro
Além dos parlamentares, Readel defendeu a necessidade de "iluminar" também os partidos, dado o peso do voto partidário no sistema brasileiro. Olhando adiante, ele apresentou um projeto de iniciativa popular que pretende reunir cerca de 2 milhões de assinaturas para "derrubar os atrasos da reforma trabalhista, imposta por Temer". O texto, elaborado por diversos advogados, será submetido primeiro às centrais sindicais. "Nós podemos derrubar todos esses retrocessos trabalhistas, desde que façamos uma campanha muito forte, para, sobretudo, iluminarmos o palco mostrando quem é quem, de que lado que eles estão, da casa grande ou da senzala", enfatizou.

Emoção e continuidade
Ao encerrar, visivelmente emocionado, Ulisses Readel celebrou a continuidade do trabalho. "Uma das razões que me deixam feliz, com os meus 92 anos de idade, é ver que o trabalho do DIAP está presente, e que a nossa classe trabalhadora vai continuar sob o comando dessa querida guerreira", disse, referindo-se à nova presidenta Rita Serrano, sob prolongados aplausos.

Sua fala não apenas sintetizou décadas de luta por transparência, mas também apontou a mobilização popular como o caminho inevitável para as próximas batalhas políticas.

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