A esperança e o desalento da classe trabalhadora em 2021
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O ano de 2021 inicia com a esperança da vacinação contra o novo coronavírus e, ao mesmo tempo, com muitos desafios para a classe trabalhadora e o povo brasileiro em geral. O desalento no horizonte precisa de enfrentamento com entusiasmo e perspectiva de novos rumos ao País.
Cleber Rezende*
A esperança vem do anúncio do Instituto Butantan, de que a vacina é um “produto baseado na inativação do vírus Sars-CoV-2 para induzir o sistema imunológico humano a reagir contra o agente causador da Covid-19” e, com as vacinas CoronaVac e Oxford aprovadas pela Anvisa. Uma esperança de imunização dos brasileiros e brasileiras rumo ao combate da pandemia.
No entanto, a esperança da vacinação enfrenta o negacionismo do presidente Jair Bolsonaro à ciência no combate à pandemia da Covid-19, mesmo diante do caos em Manaus e a crescente mortalidade Brasil afora, que ultrapassa 210 mil mortos. O que exige lutar por vacinação pública e geral para todos, no combate à pandemia e a retomada da vida social e econômica com geração de emprego e distribuição de renda.
Do ponto de vista da economia, o governo Bolsonaro destrói o país. O desemprego atinge 14,3% (outubro/20), registrando 14 milhões de desempregados que se somam a 34,4 milhões de trabalhadores sem carteira de trabalho assinada e na informalidade, segundo dados do Dieese.
Com o fechamento da Ford Brasil, as 5 mil demissões “significam uma perda potencial de mais de 118.864 mil postos de trabalho, somando diretos, indiretos e induzidos”, segundo o Dieese; assim como, a reestruturação do Banco do Brasil é a demissão de mais de 5 mil funcionários da instituição. A desindustrialização avança e cerca de 5.500 fábricas interromperam suas atividades em 2020. A indústria brasileira em falência e o governo Bolsonaro ignora o setor e os trabalhadores.
A Reforma Trabalhista (2017) não criou os empregos propagados, precarizou as relações de trabalho e os contratos de trabalhos intermitentes e, no final de 2019, contabilizou remuneração mensal média dos vínculos intermitentes de R$ 637 com equivalência de 64% do valor do salário mínimo (Dieese). Até outubro de 2020, os vínculos intermitentes correspondiam 210 mil postos de trabalhos precarizados. Somados aos danos da Reforma Previdenciária, tudo piorou para os trabalhadores empregados, informais e aposentados.
As “reformas” seguem. Na pauta do governo está a Reforma Administrativa, com o objetivo de diminuir o tamanho do Estado e seu papel na concretização de serviços públicos ao povo, com redução de salários e cortes de direitos e vantagens dos servidores nos governos municipais, estaduais e federal.
Soma-se ao desemprego e perda de renda da classe trabalhadora, os impactos da carestia da cesta básica e, segundo Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, o preço dos viveres subiu 24,67% e o gás de cozinha acumula alta de quase 22% em 2020. Assim, o trabalhador com salário mínimo comprometeu em média 56,57% da remuneração na compra dos alimentos básicos, em dezembro de 2020 (Dieese).
Enquanto isso, o salário mínimo oficial (2021) anunciado pelo governo é de R$ 1.100, reajustado em apenas 5,26%, representando pífio aumento real de 0,21%, em relação à inflação de 2020 (INPC/IBGE). Segundo o Dieese, a estimativa do salário mínimo necessário para a manutenção familiar do trabalhador é de R$ 5.304,90, quase 5 vezes mais que o salário mínimo oficial.
O fim do auxílio emergencial deve colocar 17 milhões de pessoas na pobreza extrema (Ibre/FGV), e vai elevar a desigualdade social aos patamares de 1986 (23,7%), podendo os índices de pobreza chegar a 24%, próximo de um quarto de toda a da população brasileira, segundo o sociólogo Rogério Barbosa, do Iesp (Instituto de Estudos Sociais e Políticos) da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
Nessa quadra nacional, que a esperança enfrenta o desalento, com o negacionismo de Bolsonaro no combate à pandemia, destruição da economia e dos empregos, impactos negativos das reformas Trabalhista e previdenciária, a Reforma Administrativa em discussão no Congresso. O fim do auxílio emergencial e a carestia da cesta básica e do gás de cozinha, associada à perda do poder aquisitivo do trabalhador, sem garantir ganhos reais e justos ao novo salário mínimo.
No alento à esperança, o movimento Sindical defende e luta pelos empregos e salários dos trabalhadores, contra as demissões na Ford e no Banco do Brasil, defesa de plano de reindustrialização do país, estruturação e investimentos das cadeias produtivas, com sustentabilidade ambiental e desenvolvimento regional, para promover empregos e salários dignos à classe trabalhadora.
Defender a construção de novo Projeto Nacional de Desenvolvimento com geração de empregos e distribuição de renda; fortalecimento do SUS (Sistema Único de Saúde), com revogação da EC 95, do Teto de Gastos; vacina, imediatamente, pública e para todos; fortalecimento da democracia e das instituições de Estado; pelo arquivamento da Reforma Administrativa.
Sobretudo, devemos defender e empreender esforços pela abertura do processo de impeachment para o afastamento do presidente Bolsonaro e seu impedimento do exercício da Presidência, pelos ataques recorrentes à Constituição, às instituições do Estado, à democracia, à vida e à saúde dos brasileiros e brasileiras, pela ação negacionista e genocida no trato à pandemia da Covid-19, com mais de 210 mil mortos no Brasil.
Devemos esperançar e construir novo tempo de prosperidade para a classe trabalhadora!
(*) Presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) no estado do Pará