O Brasil do êxodo urbano
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Entre 1960 e 1990, o Brasil viveu movimento migratório intenso, em razão do forte processo de industrialização nacional, levando hordas de cidadãos do campo para a cidade, fazendo com que mais do que 50% da população fosse morar e se “amontoar” em comunidades nas metrópoles, em especial nas regiões circunvizinhas às capitais das regiões Sul e Sudeste.
Vilson Antonio Romero*
Passado meio século do fenômeno denominado “êxodo rural”, o censo demográfico de 2022, divulgado em julho pelo IBGE, escancara os números de movimento inverso, com a tendência ao deslocamento da população dos grandes centros urbanos para cidades menores do interior ou polos em desenvolvimento, afastados das regiões metropolitanas.
Capitais estaduais como Salvador, Belém, Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Fortaleza, mesmo passados 12 anos do último censo, não cresceram em termos populacionais.
O número de habitantes de cada uma dessas caiu, em percentuais superiores a 5%, em alguns casos, com destaque para a capital baiana que perdeu quase 10% da população.
Os analistas e demógrafos estão debruçados em busca das motivações e justificativas desse êxodo urbano na direção de municípios com menor densidade demográfica.
Um dos fatores evidenciados pelos próprios pesquisadores do IBGE é a quase absoluta ausência do Estado na periferia das grandes cidades, com carência de serviços públicos, como saúde, segurança, escolas e saneamento básico.
Parte dessa população mais vulnerável decidiu migrar para outras paragens ou retornar para suas origens no campo ou perto desse, na direção do desenvolvimento do agronegócio ou novos polos industriais, como petroleiros, por exemplo.
Houve efetiva migração não só dessa parcela da população, mas de contingente expressivo de brasileiros, em busca de outros aglomerados urbanos ou rurais com melhor infraestrutura ou menor custo de vida.
E a pandemia de covid-19 também contribuiu decisivamente para isto. As mais de 700 mil vidas perdidas e a ameaça de contaminação, que ainda perdura, assustou os brasileiros, empurrando contingentes expressivos para o isolamento ou locais com menor densidade demográfica e melhor qualidade de vida.
As cidades litorâneas são exemplos desse deslocamento. Só no estado do Rio de Janeiro, as localidades da Região dos Lagos aparecem entre os municípios que mais cresceram como Rio das Ostras (48,1%), Búzios (45,16%) Saquarema (20,55%) e Cabo Frio (19,18%).
Esse novo retrato do Brasil, além de ter frustrado a expectativa do crescimento populacional, com a menor taxa registrada em 150 anos, vai exigir redimensionamento do repasse dos recursos públicos para muitos municípios e reorganização de infraestrutura nas cidades que mais ganharam moradores.
Essa transição demográfica vai exigir imediata providência sobre a estrutura de Seguridades Social, sobre a constatação da tendência de envelhecimento, o esgotamento do chamado bônus demográfico, e consequente redução de jovens e força de trabalho da população economicamente ativa.
Faltam as avaliações mais detalhadas do censo e as variáveis detectadas de fecundidade, mortalidade, migração internacional, faixas etárias e de renda. Mas, de fato, um novo Brasil bate à porta.
(*) Jornalista, vice-presidente da ARI (Associação Riograndense de Imprensa) e membro da Comissão de Liberdade de Imprensa da ABI (Associação Brasileira de Imprensa)