A gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta período crítico que exigirá série de ações estratégicas para consolidar o governo e superar desafios internos e externos. O sucesso do governo nos próximos 2 anos dependerá, em grande medida, do desempenho econômico, mas também da forma como Lula lidará com eventos-chave da conjuntura política nacional e internacional.

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Entre Lira e Pacheco (D), Lula assina pela terceira vez o livro de posse presidencial | Foto: Jonas Pereira/Agência Senado

Dentre esses desafios estão: o impacto das eleições municipais, o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, a necessidade de ajuste fiscal sustentável e as negociações para eleição dos presidentes da Câmara e do Senado.

O crescimento econômico é fator essencial para que o governo Lula conquiste a estabilidade e a popularidade necessárias para implementar o projeto de governo. Nesse sentido, o desempenho econômico deve estar ancorado em aumento do PIB, na geração contínua de emprego e renda, no controle da inflação e na redução das taxas de juros.

A perspectiva de retomada de investimentos, tanto públicos quanto privados, será pilar nesse processo, especialmente em áreas estratégicas, como infraestrutura e tecnologia verde.

Peça-chave
O ajuste fiscal será peça-chave para a estabilidade econômica e, consequentemente, para a confiança do mercado. Esse ajuste envolve a aprovação de reformas tributárias, que visam arrecadação mais justa, e o corte de despesas, que precisa ser conduzido com cautela para não atingir apenas as camadas mais vulneráveis da sociedade.

O apoio de aliado na presidência do Banco Central pode contribuir tanto para a gestão da política monetária, promovendo a redução das taxas de juros, quanto para relação mais harmoniosa com o mercado financeiro, especialmente no que tange ao controle da inflação.

As eleições municipais representaram momento de teste político importante para a base aliada do governo. Embora as forças políticas no Brasil tenham mantido configuração relativamente estável, com leve crescimento de partidos de direita, a percepção popular foi de que o governo Lula teria saído derrotado dessas eleições.

Esse sentimento se deve, em parte, à narrativa promovida por setores da mídia e da oposição, que buscaram criar imagem de enfraquecimento da base governista. No entanto, os números revelam continuidade de força nos partidos de centro e esquerda, os quais mantiveram quantidade significativa de prefeitos e vereadores.

Nesse contexto, a habilidade do governo em moldar a narrativa será crucial. Lula precisará reforçar a ideia de que sua base política continua estável, promovendo ações que demonstrem a capacidade de o governo atender às demandas locais e fortalecer o apoio em regiões estratégicas. Isso pode ser feito tanto por meio de investimentos em políticas locais quanto pelo incentivo às alianças regionais que ampliem o alcance da base, especialmente com vistas às próximas eleições presidenciais.

Vitória de Donald Trump
A vitória de Donald Trump nas eleições americanas representa desafio complexo para o governo Lula, especialmente na dimensão geopolítica.

Trump, ao contrário de Joe Biden, tende a adotar postura mais conservadora e menos cooperativa com líderes progressistas da América Latina, além de ter demonstrado afinidade política com figuras da extrema-direita brasileira, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Para Lula, gestão diplomática cuidadosa será essencial para neutralizar qualquer interferência negativa que a presidência de Trump possa ter sobre a política interna do Brasil e sua posição internacional.

O presidente brasileiro, que manifestou apoio à candidatura de Kamala Harris, terá de empregar suas habilidades diplomáticas e buscar canais de diálogo que preservem os interesses brasileiros em cenário de possíveis tensões. Isso pode incluir diplomacia ativa com países europeus e maior aproximação com nações da América Latina, promovendo visão de solidariedade regional.

Desgaste ao governo
O ajuste fiscal é outro ponto sensível que trará desgaste ao governo, especialmente porque envolve medidas de corte de despesas que podem afetar políticas públicas para as classes mais vulneráveis. No entanto, caso seja bem calibrado, é passo necessário para a sustentabilidade das contas públicas e para atender às demandas do mercado por gestão responsável dos recursos.

Uma das estratégias para compensar os eventuais impactos sociais é a de enfrentar privilégios econômicos de setores que historicamente se beneficiaram de isenções fiscais e incentivos.

Essa abordagem visa distribuir o sacrifício de forma mais equitativa, garantindo que a população mais pobre, que depende diretamente das políticas sociais, não seja a mais penalizada. A Reforma Tributária, focada em simplificar e tornar mais progressiva a carga de impostos, será complemento necessário para tornar o ajuste fiscal mais justo.

Congresso Nacional
A eleição dos novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Em fevereiro de 2025, será oportunidade crucial para o governo consolidar sua base de apoio parlamentar.

Em cenário em que as reformas e ajustes fiscais dependerão da aprovação do Legislativo, é vital que o governo consiga estabelecer base de apoio sólida, que inclua partidos como o União Brasil, MDB e Republicanos. Esses partidos, embora integrem o governo, ainda se mostram hesitantes em se comprometer como parte efetiva da base aliada.

O apoio de partidos de centro e centro-direita será determinante para a continuidade do projeto político sob a liderança de Lula. Conseguir estabelecer essa aliança estratégica pode facilitar a implementação das reformas desejadas e também criar plataforma sólida para a sucessão em 2026.

O governo, portanto, precisará adotar postura de negociação pragmática, oferecendo incentivos e compromissos políticos que fortaleçam a coalizão de centro.

Anos decisivos
Os próximos 2 anos, portanto, serão decisivos para o governo Lula. As demandas econômicas, os desafios políticos internos e as incertezas externas criarão ambiente de alta complexidade que exigirá habilidade política, gestão competente, habilidade diplomática e capacidade de articulação.

Lula terá que equilibrar as demandas da base progressista com as exigências de estabilidade fiscal e atrair o centro político para garantir a governabilidade necessária para consolidar seu legado.

(*) Jornalista, analista e consultor político, mestre em Políticas Públicas e Governo (FGV). Sócio-diretor das empresas “Consillium Soluções Institucionais e Governamentais” e “Diálogo Institucional Assessoria e Análise de Políticas Públicas”, foi diretor de Documentação do Diap. É membro do Cdess (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável) da Presidência da República - Conselhão. Publicado originalmente na revista eletrônica Teoria&Debate.

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